Você chega em casa depois de um dia cansativo. Seu cão vem recebê-lo agitado, muitas vezes gritando. Comovido com tanta “alegria” você comemora da mesma forma. Ao olhar a sua volta você percebe alguns objetos pessoais espalhados pela casa destruídos e também urina e fezes fora do lugar habitual. Enquanto limpa a bagunça, seu cãozinho fica o tempo todo te acompanhando. Você esta na cozinha e ele está junto. Fica na porta enquanto você vai ao banheiro, e assim por diante. Mais tarde você recebe a visita do síndico do prédio ou o vizinho da sua casa, reclamando mais uma vez que seu cão passou o dia todo chorando. Na hora que vai a cozinha ele resolve comer aquela ração que passou o dia todo disponível, mas ele só come quando você chega.
Você se identifica com essa rotina?
Seu cãozinho pode estar sofrendo de um distúrbio comportamental denominado síndrome de ansiedade de separação (SAS). Esta síndrome é caracterizada por comportamentos manifestados pelo animal por não saber lidar com o afastamento de sua figura de apego. Comportamentos depressivos, destrutivos, latidos ou uivos em excesso, micção e defecação em locais inapropriados, salivação, arranhar portas de saídas até se machucar ou destruí-las são os principais sinais. Estes comportamentos prejudicam muito o bem estar entre o animal e seu dono, e frequentemente causam doação e abandono de animais em todo o mundo.
55,9% dos animais apresentaram sinais da síndrome.
Em 2012 os autores Guilherme Marques, João Telhado e Rita Leal Paixão realizaram no Rio de Janeiro um estudo exploratório da síndrome de ansiedade de separação em cães de apartamento, no qual foi observado que 55,9% dos animais estudados apresentaram sinais compatíveis com a síndrome.
Gatos também apresentam a SAS
Por serem discretos essa síndrome frequentemente passa despercebida entre os felinos. Geralmente eles se mostram ansiosos ou deprimidos quando veem seus tutores se preparando pra sair.
Trata-se de um problema muito maior
Atualmente estamos com pouco tempo, morando em locais cada vez menores e cada dia com menos tempo para a vida social. Ou seja estamos cada vez mais solitários e carentes de alegria. Não é a toa que o consumo de medicamentos antidepressivos não pára de crescer. Não é raro buscarmos na companhia de um pet o conforto e compreensão que nos falta. E de fato eles são maravilhosos nisso, mas o problema é que eles vêm acompanhados de necessidades próprias que a rotina descrita acima nos impede de fornecer adequadamente.
Já dizia a avó: cabeça vazia oficina do diabo
Para a saúde emocional e psicológica cães e gatos, assim como nós, necessitam de atividades físicas e mentais e também do convívio social, pois da mesma forma que os humanos não são animais “feitos” para viver em isolamento.
Para os cães há uma necessidade maior de caminhadas e contato com outros cães, como cercados em parques ou day care. Os gatos, de forma geral, preferem conviver com gatos já conhecidos. Para ambas as espécies o enriquecimento ambiental se faz necessário e devem levar em conta características de cada espécie, da raça e também da personalidade do indivíduo.
Não confunda amor com descontrole emocional
Pessoas que convivem não se cumprimentam se urinando, babando, com taquicardia, gritando e pulando em cima um do outro após uma separação de poucas horas. Se seu cãose comporta assim busque tratamento.
Broncas pioram o problema
Os comportamentos são manifestações de descontrole emocional. A expectativa de levar bronca com a chegada do tutor e impossibilidade de limpar a bagunça geram no cão um tormento emocional, gerando mais ansiedade e ainda mais manifestações comportamentais. leia mais sobre punição.
O tratamento da SAS inclui avaliação do ambiente e rotina da família e adaptação desta para atender da melhor forma possível as necessidades do animal. Há técnicas terapêuticas de modificação comportamental. Além disso, com frequência, o tratamento medicamentoso se faz necessário. Dentre eles podem ser usados florais, fitoterápicos ou mesmo antidepressivos.