Para compreender o comportamento canino é necessário entender como o cão evoluiu de um animal selvagem para um “filho de quatro patas” que divide não somente a casa, mas muitas vezes a cama com seus tutores.
A teoria mais aceita a respeito do surgimento dos cães diz que os cães evoluíram de lobos que se aproximaram dos humanos quando buscavam restos de alimento acumulados ao redor das aldeias. Os humanos permitiram a presença dos animais mais dóceis e enxotaram os agressivos, dessa forma selecionando-os pela docilidade. Mais tarde os animais foram selecionados por outras características, resultando nas diversas raças de cães que conhecemos hoje. Para ter uma idéia do tempo desta relação o primeiro registro a respeito do vínculo entre seres humanos e cães foi datado de 12.000 a 14.000 anos atrás, a partir de restos mortais de caninos e humanos sepultados juntos.
O processo de seleção modificou o comportamento desses animais tornando-os animais únicos, que vivem em completa simbiose com humanos. Dentre as diferenças dos cães para os lobos estão: a capacidade de compreender a linguagem corporal humana, a facilidade no adestramento, grande interesse na companhia humana e menor inclinação a agressividade.
Na Hungria, pesquisadores tentaram criar lobos em casa desde filhotes para verificar se os cães eram apenas lobos domesticados ou se haviam outras diferenças. Quando os lobos deixaram de ser bebês e tornaram-se animais jovens, passaram a ser independentes, desobedientes, incontroláveis e desinteressados nas pessoas. A convivência ficou impossível e os animais tiveram que ser retirados da residência.
Diferentemente dos lobos, que estão adaptados para viver em alcatéias, os cães se adaptaram a viver na companhia de pessoas e dependem disso para se sentirem satisfeitos, caso contrário podem ficar tensos e inseguros. Por esse motivo os cães são animais que buscam sempre qualquer tipo de interação com seus tutores, seja ela um carinho, um olhar, um toque e até uma bronca, pois para eles uma interação ruim é melhor do que a falta de interação.
No dia a dia os cães testam várias formas de conseguir a atenção de seu tutor. Se o resultado for positivo, certamente o comportamento será repetido, da mesma forma que o insucesso irá extinguir um comportamento. Isso significa que um cão pode se comportar mal com o objetivo de levar uma bronca se estiver necessitando de interação.
Para que um cão apresente um comportamento desejado é necessário recompensá-lo com atenção sempre que estiver exibindo este comportamento. Da mesma forma que um comportamento indesejado deve ser ignorado. Quando não é possível ignorar deve-se interromper o comportamento com o mínimo de interação possível.
Para facilitar a comunicação entre humanos e cães, pode-se também utilizar palavras, basta que sejam curtas, ditas de maneira firme e estejam relacionadas com a ação desejada.
Saúde física e mental
Todos os animais da natureza precisam “batalhar” para conseguir atender suas necessidades fisiológicas como se alimentar, se reproduzir e se proteger, incluindo os humanos. Com o processo de seleção dos cães criamos animais que dependem dos humanos para atender suas necessidades fisiológicas aumentando o período de ócio desses animais.
O ócio causa distúrbios de comportamento em qualquer espécie. Animais de zoológico apresentam comportamentos estereotipados, humanos tem depressão. Com os cães não é diferente, se não fornecemos atividades que os exercitem físico e mentalmente estamos predispondo-os a problemas comportamentais que refletem a frustração que sentem. Dentre esses: latidos excessivos, ansiedade de separação, lambedura psicogênica, comportamento destrutivo, entre outros.
Boa educação, atividade física e enriquecimento ambiental são essenciais para um cão saudável, equilibrado e feliz. Uma boa forma de exercitá-los é através de um longo passeio diário. Para desafiá-los mentalmente é indicado o enriquecimento ambiental, oferecendo no local incentivos para a atividade.